Os manequins de Munique
A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero
Onde os teixos incham como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida.
Desprendendo as suas luas, mês após mês,
Sem nenhum objetivo.
O jorro de sangue é o jorro do amor,
O sacrifício absoluto.
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu,
Eu e tu.
Assim, com sua beleza sulfúrica, com os seus
Sorrisos.
Esses manequins inclinam-se esta noite
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,
Nus e carecas com os seus casacos de pele,
Pirulitos de laranja com hastes de prata
Insuportáveis, sem cérebro.
A neve pinga nos seus pedaços de escuridão.
Ninguém por perto.
Nos hotéis
Mãos vão abrir portas e deixar
Sapatos no chão para uma mão de graxa
Onde dedos largos vão entrar amanhã.
Ah, essas domésticas janelas,
As rendinhas de bebé, as folhas verdes para enfeitar,
Os alemães a dormir, espessos, no seu insondável desprezo.
E nos ganchos, os telefones pretos
Cintilando
Cintilando e digerindo
A mudez.
A neve não tem voz.
Sylvia Plath (1932-1963)
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