13.8.07

Os manequins de Munique


A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.

Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero

Onde os teixos incham como hidras,

A árvore da vida e a árvore da vida.

Desprendendo as suas luas, mês após mês,

Sem nenhum objetivo.

O jorro de sangue é o jorro do amor,

O sacrifício absoluto.

Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu,

Eu e tu.

Assim, com sua beleza sulfúrica, com os seus

Sorrisos.

Esses manequins inclinam-se esta noite

Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,

Nus e carecas com os seus casacos de pele,

Pirulitos de laranja com hastes de prata

Insuportáveis, sem cérebro.

A neve pinga nos seus pedaços de escuridão.

Ninguém por perto.

Nos hotéis

Mãos vão abrir portas e deixar

Sapatos no chão para uma mão de graxa

Onde dedos largos vão entrar amanhã.

Ah, essas domésticas janelas,

As rendinhas de bebé, as folhas verdes para enfeitar,

Os alemães a dormir, espessos, no seu insondável desprezo.

E nos ganchos, os telefones pretos

Cintilando

Cintilando e digerindo

A mudez.

A neve não tem voz.


Sylvia Plath (1932-1963)


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