31.5.07

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira

É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira

É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho

É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

Tom Jobim

30.5.07

Parece que também nós fazemos greve...

Melhores palavras virão!

27.5.07

Lições de química


Solubilidade;
Solução saturada;
Mineralização.

Conceitos que arruinaram o (...) coração.

Efeitos Colaterais


Achei que era bonito escrever-te.

Achei que era bonito falar-te.
ouvir-te.
ver-te.
tocar-te.

Achei que era bonito ter-te.

Achei.
. . .


Bernardo Sassetti e Mário Laginha - Sonho dos outros.

26.5.07

O supermercado é uma verdadeira fonte de conhecimento!

"Chupar relaja.
Chupar no mata!"

24.5.07

Para não ficarem com galos na nuca, comecem a usar o olho do cu.

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner Andresen

23.5.07

Nem sempre o amor é aquilo que nós achamos que ele é.

Pensamentos fugidos que deveriam estar presos.


A mulher, com seu porte altivo, desliza pelo passeio da rua, submersa no seu avantajado ego.

Pára e levanta o seu delicado pé. Não sabe bem porquê, simplesmente o faz e ali fica parada, na cadência da iminente queda.
O Equilíbrio agarra-a pelas goelas e sustem-na. E ali está.
Ali.
Imóvel.
Num só pé.
Poderia começar a saltar ao pé coxinho como o macaco do circo numa corda de nylon. Pensa em macacadas e começa a rir-se. As gargalhadas estremecem seus pulmões que incham e incham e quase que explodem. Os seios saltam, prestes a saírem do seu apertado vestido branco. "Liberdade!" gritam eles. A saia revolta-se por entre as suas pernas e o vento certamente não é compassível como o seu desejo por Equilíbrio.
E ela, ali prostrada no meio do ar e do nada, simplesmente perdeu a noção de si própria afogada em tamanha surrealidade.

As goelas, que o Equilíbrio teimava em agarrar, começam a berrar por ajuda e a corda começa a mover-se, esquerda direita, esquerda direita.
Equilíbrio equilíbrio.
O pé esquerdo também berra agora e em seguida o tornozelo. Oh Oh! Berram berram, terrível sinfonia draculiana.


Depois a cortina caiu e ouviu-se um baque no fundo do palco.

22.5.07

Quando deixamos de fazer das coisas algo obrigatório tiramos muito mais partido delas. É o que se passa actualmente com este blog, ele tornou-se um simples caderno virtual no qual rabisca-se a merda que nos inunda o interior do crânio.

hoje vou fazer um monólogo.
Decente.

Hoje fui à igreja. Ia um senhor de óculos, com cerca de 40 anos, ar pacífico, à minha frente. Olhou a porta da igreja e entrou, e eu, não sei bem porquê, segui-o. Foi um impulso talvez, porque esta não foi a primeira vez que tive quase para entrar na igreja, só que havia sempre medo e receio e nunca entrava, a sensação de ser uma reles pecadora que não é digna de entrar na "casa de Deus"...
Mas hoje entrei. O coração batia-me nas costelas, os pensamentos emaranharam-se como novelos de lã mas os pés moveram-se... Pisaram o chão frio que a empregada lentamente limpava, move banco, levanta pano, limpa limpa.
Cheguei aos bancos e ajoelhei-me, entrelacei as mãos e olhei em frente. E não vi, não vi a luz, senti medo, medo de pensar no que não devia. É estranho isto, quando tu estas na igreja sentes que os teus pensamentos são audíveis, que alguém te viola a mente. Eu tentei orientar-me e depois comecei a pensar. A igreja não é algo penoso, não é uma mentira acho eu, acho que é um sitio onde tu simplesmente pensas e onde ganhas a capacidade de julgar os teus próprios actos, receando que um Deus também o faça. Pensei e acho que me vou confessar, vou tentar encontrar a minha fé, encontrara-me a mim própria.
Quando era pequena, o meu pai disse-me para olhar para as montanhas e pensar o mais que pudesse, com muita muita força, e desejar que elas se movessem, que o desejasse incessantemente e que acreditasse. Que isso era fé e que um dia iria pensar muito e desejar muito que as montanhas se movessem.

Hoje tenho 17 anos e 25 dias e desejo que as montanhas se movam.

21.5.07

Purificação.


à espera da chuva

Deixa-me levar-te à sala dos gritos.
Deixa-me levar-te à sala do choro.
Deixa-me levar-te à sala do sangue.
Deixa-me retratar a fealdade da vida e mostrar-te o quão belo sou.


"Le monde est grands et les gens sont laids."

Para aproveitar um raro momento de internet na escola, gostaria de berrar para todos vós:

NEW YORK HERALD TRIBUNE!
NEW YORK HERALD TRIBUNE!


(espero por berros de volta)

20.5.07

Na sexta. 19 de maio, tive a oportunidade de comprovar que a comunidade de borbulhas que povoam a superfície facial da nossa adorada Dora Lee não se concentra no queixo, nem em qualquer outra zona.
Presumo que seja uma evolução.

23/24/25 e posteriores anos: NADA!


"eu pareço uma maluquinha a puxar a camisola assim pa baixo."

E mais uma aquisição nas nossas preciosas gotas de água.

Desta vez, o contemplado foi o Zero, o Zero que afinal está vivo, (sim, vivo e cala-te) e que veio da Estaca 0, uma belíssima cidade segundo Ninguém.


"Quando for arquitecto, vou fazer casas personalizadas ao ponto de as escadas estão desenhadas para o comprimento do teu passo."

O zero é par.

Vão-se foder.



(não, isto não é um remake do teu momento de revolta e ódio em relação à minha pessoa.)

15.5.07

"A Paulina tinha 4 irmãos.
Um deles suicidou-se, chamava-se Quim. Há três ou quatro anos... não era feliz no casamento,a mulher deixou-o. Matou-se com o remédio dos escaravelhos. Devia ser mais velho que ue 8 anos, 8/9 anos.
Eles eram todos diferentes um dos outros. Viviam todos muito bem mas o pai estourou tudo com casino e mulheres.
Todos os irmãos foram para a guerra colonial, o Quim era furreal, um alto cargo na tropa. Ele recebia um salário que vinha para uma conta do pai. Quando ele chegou cá, o dinheiro ja lá não estava, o pai tinha-o roubado. O pai dele não fazia nada, andava sempre dum lado para o outro. O carro dele era daqueles carros antigos, daqueles modelos esquisitos, os faróis pareciam pontiagudos, tipo os americanos, mas não tão grandes.
A mãe da Paulina era muito grande, muito gorda. Engraçado que eles dormiam todos nos mesmos quartos, os rapazes num, dormiam dois a dois, e a meninas num outro quarto, em camas separadas.
A Paulina morreu, começou a beber muito, morreu de cirrose. E a mais velha, a Gusta morreu também. Essa não tinha filhos. A Laura, que trabalhava na pichelaria Mouzinho, ela também bebe muito, anda sempre a esconder as garrafas em casa. Vinho do porto sabes?
A Gusta, ainda me lembra, ela vinha namorar para fora da casa e dizia ao namorado que ia a casa da banho, mas não era nada disso, ela vinha beber vinho. Sempre a conheci bêbeda, ai os irmãos ficavam fulos com ela, sempre na adega. No verão, não havia um dia em que ela não estava bêbeda. O marido da Rosa, uma das irmãs, também morreu. A Cândida sempre foi a de nariz mais empinado delas todas, formou-se em enfermagem em Lisboa, mas nunca se casou. Agora trabalha no Hospital de cá.
-Uma família estranha...
Foi."

Maria do Carmo Freitas.

9.5.07

Crianças, temos uma nova gota de água!


Dora Lee Produções apresenta:

O Minuto do Ódio



DORA LEE says:
dantes aí pelos 13 anos tinha o nariz xeio de borbulhas
DORA LEE says:
dpois ali aos 14 /15 era na testa
DORA LEE says:
dpois aos 16/17/18 era na cara toda
DORA LEE says:
dpois aos 19/20/21/22/23 é no keixo

6.5.07

Os hamsters estão destinados a morrer nas nossas mãos.

3.5.07

<3 Já tinha publicado este texto no fotolog, mas apeteceu-me juntá-lo aos outros textos do nosso amado blog.



Ele entrou no quarto onde ela já se encontrava deitada sobre os lençóis. Tirou a arma que trazia no cinto da sua farda e pousou a em cima de uma pequena mesa junto da janela. Ela sentiu a sua presença. Ele chegou perto dela, tirou o casaco coberto de medalhas e estrelas douradas e tirou também o cinto alusivo a pátria. Acabou por deixar tudo num canto, longe da luz das velas que iluminavam o pequeno espaço. Ela, lentamente, sentou se na cama e ficou frente a frente com ele. Ele arregaçou as mangas da camisa, agarrou o pescoço dela e voltou a deita la na cama. Puxou o vestido dela, fez com que ele escorregasse pelo seu corpo pálido. Quando chegou ao umbigo parou e recuou. Deu um passo a trás. Ela tinha deixado um ferro sobre as velas e ele foi buscar esse ferro, que parecia agora ferver nas mãos dele e no olhar dela, que se agarrava com toda a força a almofada deitada ao seu lado. Parecia ansiosa e assustada. Ele voltou a aproximar se dela. Passou lhe a mão pela cabeça e depois pela barriga. Acariciou o seu umbigo. Agarrou com força o ferro e agarrou também um pouco de pele que envolvia o umbigo. Perfurou esse bocado de pele com o ferro quente, muito quente. Ela gritou. Ele fechou os olhos. O ferro caiu ao chão e o lençol ficou manchado com sangue.

1.5.07

É interessante o sentimento que às vezes possuímos quando queremos escrever algo extremamente belo recorrendo a algo tão visualmente seco quanto letras. Nós bem que podemos "floreá-las" e fazer umas doces torções na perninha do "g" ou substituir as pintinhas do "i" por coraçõezinhos mas isso só torna a coisa ainda mais superficial.
Por isso acho feio quando as pessoas escrevem sem nunca recorrerem a uma metáfora, sem nunca descrever emuma acção, cingindo-se a algo tão plano quanto sentimentos. Quando as letras são usadas desta forma, o texto torna-se abominável, não vês lá nada, é tudo aborrecidamente da mesma cor.
Atirem sangue para o papel, ponham-lhe dor, facas e morte. Ponham sorrisos, saltos e elefantes a correr. Ponham flores a abrirem e outras a murcharem. Façam das letras os vossos olhos da mente.


As palavras são o pincel de um pintor cuja destreza manual não é superior à de um elefante.



(e isto deveria ter sido algo mais bonito)