29.8.07

Odeio-te com um vigor incomensurável,
odeio-te com a força deste universo e do outro,
odeio-te ainda mais que Deus, se este também te odiasse.

Odeio-te como odeio a fome,
odeio-te como odeio o desejo insaciável,
odeio-te como odeio festas populares.

Odeio-te como se fosses a única pessoa no mundo que pudesse odiar
(o que até se revela verdade).

Odeio-te com um enorme amor ao ódio e com um enorme desprezo à tua pessoa.


Odeio-te com todas as minhas forças e é isso que me faz pensar que te amo.

“Num momento de desvario, poderia pegar-te nos braços, torcê-los como à roupa lavada para lhe tirar a agua, ou parti-los ruidosamente, como a dois ramos secos, e depois fazer-tos comer à força. Poderia, segurando-te a cabeça entre as mãos, com um ar caridoso e doce, enterrar-te os dedos ávidos nos lóbulos do teu cérebro inocente, para extrair de lá, com um sorriso nos lábios, um unto eficaz que me lave os lhos, doridos da eterna insónia da vida. Poderia, cosendo-te as pálpebras com uma agulha, privar-te do espectáculo do universo, e pôr-te diante a possibilidade de encontrares o teu caminho; e não seria eu a servir-te de guia. Poderia, erguendo o teu corpo virgem com braço de ferro, agarrar-te pelas pernas, fazer-te girar à minha volta como uma funda, concentrar as forças na última circunferência, e lançar-te contra o muro. Cada uma das gotas de sangue irá cair sobre um peito humano, para assustar os homens e pô-los diante da minha maldade! Não pararão de arrancar o pedaços e pedaços da própria carne, mas a gota de sangue continua inapagável, no mesmo lugar, e brilhará como um diamante. Fica descansada, que eu darei ordens a meia dúzia de criados para guardarem os restos venerados do teu corpo, e os preservarem da fome dos cães vorazes. Claro que o teu corpo ficou colado ao muro, como uma pêra madura, e não caiu no chão; mas os cães podem dar grandes saltos, e é preciso ter cuidado com eles.”

- os cantos de Maldoror, de Isidore Ducasse.

Um pote laranja fez de cavalo de Tróia na secretária, a sua tampa elevou-se com o rufo dos tambores imaginários e milhares de soldadinhos hologramas saíram de dentro dele como uma enchente que tudo destrói. Soaram as armas, os gritos e os pés a baterem no chão, foi o caos no meio do nada. Os soldadinhos continuaram a disparar e decapitar o ar que silenciosamente clamava por ajuda. As espadas eram esbracejadas ao acaso, rompendo peitos e músculos, derramando um sangue que era tudo menos líquido. O pó elevou-se no ar como uma praga de gafanhotos e envolveu os soldadinhos que continuavam a correr de um lado para o outro. Os seus distintivos brilhavam face à incandescência do sol e também eles matavam com a ferocidade da cegueira. Tudo era destruição nestes soldadinhos hologramas. E agora eles cantam a vitória! VITÓRIA!
Correm de novo para o pote, a tampa fecha-se.
O ar continua vivo.

O sol abriu-nos os olhos com a felicidade imensa do novo dia, sorriu-nos ao de leve. o vento elevou-nos as bochechas fazendo com que as gargalhadas nos escapassem por entre os lábios. Os prados verdejantes acenavam-nos em tom de convite e por entre eles nós corremos que nem lebres, corremos e corremos sem fim.

(deixemo-los correr sem fim)

28.8.07

PROCURA-SE DOCE ALMA QUE ME EMPRESTE UMA PORCARIA DE UMA PEN!

(senão não posto)

21.8.07



Ela está a aprender o que é o amor.

18.8.07

procura-se telescópio humano.

17.8.07

Exma. Sr. Dra. Dora,
venho por este meio comunicar-lhe a enorme vontade que tenho de me alistar no seu blog, o blog do ódio.
Sou uma famalicense revolta e escrever ódio com palavras odiosas e merdosas parece me a melhor soluçao para deitar todo este ódio para fora de mim e julgo que fazê-lo no seu blog é uma decisão acertada, já que este existe exactamente para este tipo de fins.
Fico a aguardar a sua resposta. Obrigada pela atenção.

Com os maiores cumprimentos,

Sophia.

16.8.07

Dear brothers and sisters dear enemies and friends
Why are we all so alone here
All we need is a little more hope, a little more joy
All we need is a little more light, a little less weight, a little more freedom.
If we were an army, and if we believed that we were an army
And we believed that everyone was scared like little lost children in their grown up clothes and poses
So we ended up alone here floating through long wasted days, or great tribulations.
While everything felt wrong
Good words, strong words, words that could've moved mountains
Words that no one ever said
We were all waiting to hear those words and no one ever said them
And the tactics never hatched
And the plans were never mapped
And we all learned not to believe
And strange lonesome monsters loafed through the hills wondering why
And it is best to never ever ever ever ever ever ever ever ever ever wonder why
So tangle - oh tangle us up in bright red ribbons!
Let's have a parade
It's been so long since we had a parade, so let's have a parade!
Let's invite all our friends
And all our friends' friends!
Let's promenade down the boulevards with terrific pride and light in our eyes
Twelve feet tall and staggering
Sick with joy with the angels there and light in our eyes
Brothers and sisters, hope still waits in the wings like a bitter spinster
Impatient, lonely and shivering, waiting to build her glorious fires
It's because of our plans man; our beautiful ridiculous plans
Let's launch them like careening jetplanes
Let's crash all our planes in the river
Let's build strange and radiant machines at this jericho waiting to fall

Letra de "built then burn (hurrah!hurrah!)" - A Silver Mt. Zion

15.8.07

Durante a Idade de Ouro, quando a Primavera era eterna e os homens viviam em harmonia com os deuses, Astréia, filha de Júpiter e Têmis, vivia na terra, entre os humanos, aconselhando-os e dando-lhes noções de leis e justiça. Nesta época, não haviam no mundo guerras, catástrofes ou crimes. A Natureza era plena e oferecia alimento a todos os homens, que existiam em paz com os deuses.
Mas os homens tornaram-se gananciosos e passaram a negligenciar as suas obrigações com os deuses, julgando-se donos do próprio destino. Irritado com a prepotência dos mortais, Júpiter determina um castigo: a Idade de Ouro tinha acabado. A Primavera seria limitada, a terra deveria ser tratada para produzir frutos e a juventude eterna não existiria nunca mais.
Ao ver o comportamento dos humanos e os castigos que o Deus dos deuses lhes impunha, Astréia refugia- se nas montanhas, mas continua à disposição de todos aqueles que a quiserem procurar para ouvir os seus sábios conselhos.
Mesmo com todos os castigos de Júpiter, a punição da humanidade não terminara e os homens descobrem a guerra. Este período belicoso caminha para uma nova era, a Idade de Ferro, em que os homens já não respeitam a honra, a franqueza ou a lealdade e onde as suas acções são determinadas pela ambição e pela violência.
Ao ver o ponto em que as coisas estavam, Astréia, entristecida, resolve abandonar a Terra e deixar de conviver com os mortais. A deusa, refugia-se no céu e a Balança que utilizava forma a constelação de Balança, para lembrar aos homens que o mundo é regido por leis, que tudo deve ser ponderado e que as suas acções devem ser pesadas relativamente às suas consequências.




Eu sou balança.

13.8.07



"Listen, Donna. I'm talking, Donna. I have to go to the bathroom, Donna."















"Hey! Tu... Não te metas comigo! Eu sou supa sexy, estás a ouvir?!"

Tudo o que faltava para ficar explicito que isto é um blog de miúdas.


Os manequins de Munique


A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.

Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero

Onde os teixos incham como hidras,

A árvore da vida e a árvore da vida.

Desprendendo as suas luas, mês após mês,

Sem nenhum objetivo.

O jorro de sangue é o jorro do amor,

O sacrifício absoluto.

Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu,

Eu e tu.

Assim, com sua beleza sulfúrica, com os seus

Sorrisos.

Esses manequins inclinam-se esta noite

Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,

Nus e carecas com os seus casacos de pele,

Pirulitos de laranja com hastes de prata

Insuportáveis, sem cérebro.

A neve pinga nos seus pedaços de escuridão.

Ninguém por perto.

Nos hotéis

Mãos vão abrir portas e deixar

Sapatos no chão para uma mão de graxa

Onde dedos largos vão entrar amanhã.

Ah, essas domésticas janelas,

As rendinhas de bebé, as folhas verdes para enfeitar,

Os alemães a dormir, espessos, no seu insondável desprezo.

E nos ganchos, os telefones pretos

Cintilando

Cintilando e digerindo

A mudez.

A neve não tem voz.


Sylvia Plath (1932-1963)


9.8.07

A mulher de vermelho desliza por entre os corredores caiados de branco num imaculado amontoado de lençóis. As palmas das mãos viradas para o céu na vã esperança de as ver furadas por pregos ferrugentos. “Quero ser mártir, mártir por mim. Sim sou egoísta e depois? Não o terá sido também Jesus ao leva consigo toda a gloria daqueles que também morreram pelos outros? Pois bem, eu não roubo gloria a ninguém. a não ser a mim própria. Isso não faz de mim ladra. A gloria pertence-me! Serei mártir por mim”

tenho lepra

a carne cai-me aos bocados. um rasto de sangue atrás de mim, qual caracol com o período. o amor sai-me pelos poros, libertado por erupções de medição métrica.os meus olhos pendurados, como dois trapezistas envoltos em chamas, suspensos face ao abismo.
desfaço-me a cada segunda que passa. alguém que me guarde a carne, que a segure no braços, alguém que a coma. canibalismo? isso pode ser amor


6.8.07 (madrugada)

2.8.07

fomos de férias.

te um dia*