19.11.07



Foi num dia bonito, de céu enublado que o mar me levou para longe.


Lá estava eu, na areia, com os meus enrugados pés descalços, a sentir a areia fininha debaixo dos meus calos, de mãos dadas com o Tomé. Aquecíamos as mãos um ao outro, esfregando-as muito devagar não fosse a nossa pele quebrar-se. As ondas ao longe convidavam-nos a fechar os olhos e eu aceitei o convite. A luz escondida passava pelas minhas pálpebras e vi tudo claro, nuances de azul e cinzento... Senti a minha boca a formar um sorriso e pensei no Tomé, no belo Tomé com quem havia casado há tantos anos. Era isto com que tinha sonhado há muito muito tempo quando lhe disse que seria com ele que queria morrer, assim de mãos dadas.
O vento soprava-me os frágeis cabelos para trás e arrepiava a reluzente carequinha do Tomé. Abri os olhos e olhei para ele. Debaixo das rugas, via-lhe a beleza, todos os dias olhava assim para ele, lembrando-me do quanto o amava. Ele retribui-me o olhar e senti-me aconchegada por braços invisíveis.

Não dissemos uma única palavra todo o dia, falávamos por sorrisos e gestos, os sons já eram desnecessários. Os nosso corações batiam à mesma velocidade e isso as pessoas novas não sentem. Senti-me tão feliz ali, em frente ao azul infinito e voltei a fechar os olhos. Estava preparada para partir. Apertei ao de leve a mão do Tomé e deixei que o mar me levasse para junto de Deus.

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