2.11.07

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Quarta-feira 18


O Homem de Negócios já se foi, foi-se no dia 15. Era domingo, o primeiro dia da semana.

Voltei ao sonambulismo temporal.
Hoje não fui ao chinês, fiquei-me por uma barraca na berma da estrada. Peguei no carro e fui conduzir pela auto-estrada fora, em silêncio. Não quis ligar o rádio, irrita-me o modo pausado como os locutores falam, como repetem as mesmas palavras para encher o tempo até um bip estúpido marcar as 2h da manhã.

Decidi andar de carro para pensar claro, não consigo pensar em casa, faz-me chorar a mais e pensar a menos. Custou-me vê-lo a partir pela manhã, fui com ele até ao aeroporto. Sem querer, ele esventrou-me, tirou-me o coração para fora e fui obrigada a enfrentá-lo. Tinha trabalhado durante muito tempo para o fechar numa jaula e alimentá-lo o menos possível, fazer dele um anoréctico coração. Mas agora tudo isso pareceu ter sido em vão.
Pensei em sair do carro, sem o parar e atirar-me para a berma da estrada e ficar ali. Mas não o fiz, se há algo que não sou é suicida. Recuso-me sequer a pensar nisso. Eu criei-me, inventei-me. Não sou um simples fruto da natureza, desprendi-me de tudo o que conhecia e vim para aqui.
Não me vou desperdiçar só por causa de um homem.

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